Marcos da história brasileira: à frente de bloco que virou referência cultural e estética e de grupo que inventou instrumentos fincando bases que mudaram a trajetória do samba, músico de 88 anos enfrentava complicações relacionadas a câncer de próstata e Alzheimer
Por O GLOBO — Rio de Janeiro
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Morre Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal — Foto: Reprodução
Morreu aos 88 anos, na noite deste sábado, o sambista Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos e um dos criadores do grupo Fundo de Quintal. O músico, que estava internado no Hospital da Unimed Ferj, na Barra da Tijuca, enfrentava complicações relacionadas ao câncer de próstata e ao Alzheimer.
Nas redes sociais, diversos artistas manifestaram pesar pela morte do sambista. A longa lista inclui nomes como Belo, Xande de Pilares e Marcelo D2, além de outros como Suel, Paula Lima, Vavá, o grupo Art Popular e Tiee.
Ainda não há informações sobre o local do velório, bem como onde será o sepultamento do músico, que deixa as filhas Karla Marcelly e Christian Kelly, os netos Yan e Brian, e a bisneta Lua, além de amigos e admiradores do seu trabalho em prol do samba.
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Músico enfrentava complicações relacionadas a câncer de próstata e Alzheimer
Mais velho de quatro irmãos, filho de um serralheiro e de uma mãe de santo, Ubirajara Félix do Nascimento foi criado em meio às rodas de samba que Seu Domingos, seu pai, o levava quando criança no subúrbio do Rio. Aos 7 anos, foi batizado na Estação Primeira de Mangueira. Conviveu com lendas do samba, como Donga, João da Baiana, Pixinguinha, Carlos Cachaça, Aniceto do Império, entre outros bambas, que eram amigos de seu pai. Mais tarde, tornou-se ele mesmo uma lenda do gênero musical.
Junto dos irmãos e de amigos, criou um bloco para pular carnaval na ruas de Ramos, "Os homens da caverna". Depois, o grupo se fundiu com outros dois, um de Aymoré do Espírito Santo, e outro dos irmãos Sereno, Chiquita e Walter Tesourinha, chamado de Cacique Boa Boca. Nascia, então, em janeiro de 1961, o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos. Bira se tornou presidente do bloco, ocupação na qual se manteve até morrer.
Já no final dos anos 1970, Bira participou de um show no Teatro Opinião com um grupo de samba formado, no qual ele tocava pandeiro. Ubirany (repique de mão), Sereno (tantã), Almir Guineto (banjo), Jorge Aragão (violão), Sombrinha (violão) e Neoci (tantã) completavam o grupo. O show foi batizado de "Samba é no fundo de quintal", mesmo nome do disco que lançaram em 1980. Era o início de um dos mais emblemáticos grupos de samba da história, que revelou, além dos integrantes originais, outros nomes que vieram depois, como Arlindo Cruz.
Um dos registros da importância de Bira ficou marcado quando foi um dos principais personagens na elaboração do livro "Carnaval-Ritual: Carlos Vergara e Cacique de Ramos" (finalista do 64º Prêmio Jabuti), do escritor e professor universitário Maurício Barros de Castro.
“Tudo isso faz deste livro um documento histórico e de crítica cultural precioso”, explica, no prefácio da obra, o curador Luiz Camillo Osório.
O livro traz uma análise crítica do encontro entre Vergara e o Cacique, refletindo sobre as questões que levaram o fotógrafo a buscar a cultura popular. Naquele momento, nos anos 1970, ele decidiu voltar "seu olhar e sua câmera fotográfica" para o carnaval de rua do Rio, mais precisamente para o bloco Cacique de Ramos, momento em que Bira (enquanto liderança máxima e fundador do bloco) passa a ser a parceria de Vergara para a obra.
Cacique de Ramos
O estrelato do Cacique de Ramos veio por meio de Beth Carvalho, que gravou em 1978 o álbum De Pé no Chão. Em 2005, virou Patrimônio Cultural Carioca e, em 2012, enredo da Estação Primeira de Mangueira. Outro frequentador ilustre foi Zeca Pagodinho.
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Fundo de Quintal
Além de Bira Presidente (pandeiro e vocais), o grupo de samba formado no final dos anos 1970 tem como sua formação mais recente Sereno (tantã e vocais), Ademir Batera (bateria e vocais), Júnior Itaguay (cavaquinho e vocais), Márcio Alexandre (banjo e vocais) e Tiago Testa (repique de mão e vocais). Ao longo do tempo foram 33 álbuns lançados, entre trabalhos de estúdio e ao vivo.
Ao longo dos anos, diferentes músicos participaram do grupo, como Walter Sete Cordas, Cleber Augusto, Mário Sérgio, Ronaldinho, Flavinho Silva, Délcio Luiz e Milsinho.