Brasília (DF) — Registros de entrada no Ministério da Previdência Social revelam que o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, e o empresário Gustavo Marques Gaspar, ex-assessor e aliado do senador Weverton Rocha (PDT-MA), estiveram juntos em uma reunião com o atual secretário-executivo da pasta, Adroaldo Portal, no dia 13 de março de 2023.
A visita, realizada por volta das 10h40 e com duração aproximada de 25 minutos, não consta na agenda oficial do secretário — o que, segundo especialistas em transparência pública, representa uma falha no cumprimento da Lei de Acesso à Informação, que obriga gestores federais a divulgar compromissos institucionais.
Em resposta anterior à imprensa, Adroaldo Portal afirmou que o encontro não havia sido previamente agendado e que recebeu o grupo a pedido de uma assessora, sob a justificativa de que se tratava de representantes de um correspondente bancário. O secretário alegou ainda que não conhecia Careca do INSS e que a reunião teve caráter informal.
O lobista, por sua vez, deu uma versão diferente à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, que apura fraudes estimadas em R$ 6,3 bilhões contra a Previdência. Em depoimento, ele afirmou que o encontro teria tratado de uma possível doação de medicamentos à base de cannabis, ligados a uma empresa da qual é sócio.
A presença de Gustavo Gaspar no encontro não havia sido mencionada anteriormente. A reportagem apurou, no entanto, que ele entrou e saiu do prédio na companhia de Careca do INSS. A assessoria do Ministério da Previdência informou, em nota, que “instabilidades no sistema” comprometeram a atualização das agendas de alguns gestores.
Elo empresarial e investigação policial
A CPMI e a Polícia Federal investigam possíveis conexões entre o lobista e pessoas próximas ao senador Weverton. Um dos indícios envolve um carro de luxo registrado em nome de Gustavo Gaspar, que teria sido negociado por Careca do INSS em uma concessionária de São Paulo. O veículo foi posteriormente devolvido após inconsistências na documentação.
Além disso, uma procuração assinada por Gaspar deu poderes financeiros a Rubens Oliveira Costa, apontado pela PF como operador logístico do lobista — o chamado “carregador de mala” do esquema. Esse documento permitia a movimentação de valores da empresa GM Gestão Ltda, pertencente a Gaspar.
O senador Weverton Rocha negou qualquer envolvimento ou conhecimento sobre as tratativas entre seus ex-assessores e Careca do INSS.
Uso compartilhado de aeronave
Outro ponto investigado é o uso compartilhado de um jatinho particular, modelo Beech Aircraft F90, entre o senador e o lobista. A aeronave pertence a um advogado que defende Careca do INSS em processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Documentos mostram que ambos utilizaram o avião em diferentes ocasiões em 2024. A Polícia Federal acompanha os registros de voos para determinar se há vínculo financeiro ou logístico entre os usuários.
Fiscalização e transparência
O caso reforça o debate sobre a importância da transparência na gestão pública e do controle sobre a interlocução entre agentes privados e representantes do Estado. Especialistas ouvidos por veículos de imprensa destacam que encontros não registrados oficialmente ferem princípios básicos de publicidade e podem comprometer a confiança da sociedade nas instituições.
A CPMI do INSS segue em andamento e deve decidir, nas próximas sessões, se convocará novos depoimentos para esclarecer as relações entre os investigados e representantes do poder público.
